Sunday, January 22, 2006

o câncer das mamas



A morte comeu minha primeira mãe na década de sessenta.
As pequenas petiscadas foram no pescoço, eriçando caroços por todo corpo.
Devagar o beijo fatal foi no baço, dois meses após meu primeiro aniversário.
Minha segunda mama foi devorada aos pouquinhos nos anos noventa.
Primeiro a indesejada lhe introduziu uma vontade de nada, após amputar-lhe o seio .
Num ritual satânico e doloroso devorou seu intestino e na sobremesa cristalizou seu estômago roubando sua sanidade.
Meu pai e meus irmãos rezaram para que o divino a poupasse,
Implorarando a santa morfina que aliviasse suas dores .
Minha última mãe virou criança nos braços de Deus.
Meu pai limpou seus vômitos, na sua ultima tempestade
A noite como um xamã invoquei com fúria, piedade.
Pela manhã velaram a morta.
O pastor falou da gloria de Jesus.
Agradeci aos deuses a graça concedida, e quando o caixão se fechou enterrei também minha autopiedade e chorei minha própria morte.
Todos choraram o horror de que um dia estariam lá.








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